RESENHA: “O PREÇO DA VERDADE”

DOI:

https://doi.org/10.17564/2316-3151.2025v9n2p37-42

Autores

  • Anielle Vitória Santos Universidade Tiradentes
  • Anne Caroline de Carvalho Amâncio

Palavras-chave:

Estudantes de Medicina

Publicado

2025-10-06

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Resumo

O filme “O preço da verdade” é um longa-metragem produzido pelo diretor, roteirista e produtor cinematográfico norte-americano Todd Haynes, o qual, segundo o site Rotten Tomatoes (TODD…, 2019), responsável por reunir em porcentagem as avaliações positivas de críticos profissionais, é conhecido pela abordagem sobre sexualidade, discriminação e tópicos mais políticos nas suas obras. Ele se consolidou como um dos pioneiros do movimento cinematográfico “New Queer Cinema”, que surgiu no início dos anos 1990. Além disso, o diretor também explora em cena a perspectiva do personagem, isto é, exterioriza suas angústias e sentimentos internos. 

Essa produção, lançada em 2019, foi baseada em fatos reais publicados na revista The New York Times, em 6 de janeiro de 2016, escrita por Nathaniel Rich (2016). Intitulada “O advogado que se tornou o pior pesadelo da DuPont”, a matéria relata a história de um dos maiores escândalos de poluição ambiental dos Estados Unidos da América entre o advogado Rob Billot e a empresa química DuPont. 

No filme, Rob Billot, interpretado pelo ator Mark Ruffalo, é promovido a sócio em um grande escritório de advocacia que defende grandes empresas do setor químico, a Taft. Nesse mesmo contexto, ele recebe a visita de um fazendeiro conhecido como Wilbur Tennant, interpretado por Bill Camp, que busca ajuda para denunciar a contaminação, em larga escala, que a DuPont estava realizando em suas terras, localizadas em uma pequena cidade da Virgínia Ocidental. Tennant havia procurado diversas autoridades locais em busca de apoio, mas ele havia sido rejeitado não apenas pelos advogados de Parkersburg, mas, também, por seus políticos, jornalistas, médicos e veterinários.

 Ao seguir com a árdua investigação, Billot descobre que a Instituição estava sendo responsável por contaminar rios de reservas públicas de água ao despejar uma substância tóxica, ácido perfluorooctanóico (PFOA) ou C8, também chamado de Teflon. Esse acontecimento contrapõe a resolução 76-300 da Organização das Nações Unidas (ONU), a qual – de acordo com o Centro de Estudo Estratégicos da Fiocruz Antônio Ivo de Carvalho (Vilhena, 2022) – discorre sobre a importância de todas as pessoas no planeta terem acesso a um meio ambiente limpo e saudável e o quanto os impactos negativos ao meio ambiente reverberam na saúde individual e coletiva, principalmente os grupos que estão à margem da sociedade. 

Para o relator especial sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente, David Boyd (ONU, 2022, s.p), a resolução “[...] tem o potencial de ser um ponto de virada para a humanidade, melhorando a vida e o gozo dos direitos humanos de bilhões de indivíduos, bem como a saúde do planeta [...]”, o que reafirma os benefícios que um meio ambiente limpo implica no bem-estar. No que concerne à saúde no dia a dia, Santos, Franco e Alves (2022) apontam que, apesar do uso do teflon no cotidiano possuir pontos positivos como a leveza do material e a elevada antiaderência, os pontos negativos se destacam. As panelas com teflon possuem traços de PFOA, que são potencialmente cancerígenos.

Nota-se, assim, a correlação com a realidade – e o fato de que, mesmo com as pesquisas, a comercialização desses materiais não parou. No enredo do filme, situações similares conseguem ser exploradas na medida adequada com a tensão, o suspense, a frustração e a indignação do telespectador. Isso tudo ao mostrar em tela a árdua batalha de Billot pela necessidade de justiça pelas consequências maléficas do consumo da água contaminada. Há, ainda, o medo iminente do advogado de ser morto, o estresse mental e físico que ele passou ao decorrer dos anos, com a morosidade do processo, que se prorroga por cerca de 20 anos. 

Dentre as críticas colocadas no enredo, ainda, o diretor as amplia e consegue trazer, de uma forma bem sutil, uma análise ao representar a dificuldade de uma mulher, enquanto advogada e mãe, de ascender como sócia de um escritório. A personagem em questão é Karla, interpretada por Louisa Krause, que ao longo da trama passa por situações de avanço na carreira, desde o início, como estagiária, até o momento do filme, em que realiza casos de extrema importância para a empresa. No entanto, a equipe, composta majoritariamente por homens, apresenta uma visão machista que desvaloriza o papel da mulher quanto uma profissional de mesma capacidade. Ainda, o longa demonstra o equilíbrio que existe na vida de uma mulher, a qual é pressionada para, além de trabalhar, ser mãe e conseguir realizar ambas as funções com excelência.

Gradualmente, a obra se desvela com uma singularidade que contrasta dualidades do ser humano e do meio ambiente, algo que pode ser vislumbrado em tela pela escolha das cores na transmissão das imagens e revela uma contraposição entre o luminoso e o escuro, de uma sociedade capitalista do século XXI. Com isso, o diretor consegue instigar o telespectador a sentir o peso, a angústia e a tensão produzida por esse contraste imagético nos diferentes ambientes. Exemplos desse aspecto são: a primeira visita a fazenda dos Tennant e as discussões realizadas nos diferentes espaços – escritório, tribunal, residências –, que provocam um impacto devastador.

Dessa forma, a produção norte-americana traz um assunto de grande relevância para a população. Empresas como a DuPont, que apresentam grande porte e grande centralização comercial, expressam o poder de manipular, de impedir a divulgação das informações e de sair impune da responsabilidade. Isso se deve ao fato de que, a descoberta dessas informações podem ser prejudiciais para o próprio desempenho e já o são para a vida das pessoas que dependem dos recursos da região. Assim sendo, quando há a exposição desses fatos, existe uma histeria e preocupação momentânea, mas que são rapidamente esquecidos, gerando um sentimento de impunidade e um ambiente que fica para sempre violado.

A influência da manipulação na obtenção de poder, é demonstrada em diversas outras obras, a exemplo da série estadunidense “Inventando Anna”, produzida por Shonda Rhimes, em que, a protagonista, distorcendo a realidade e garantindo a proteção advinda do conhecimento com grandes concentradores de capitais, finge ser outra pessoa e obtêm vantagem com isso. Diante disso, é possível relacionar ambas as produções, visto que é fácil de observar a influência do capital e do sobrenome diante de problemáticas políticas.

Por esse motivo, consumir essa produção é de grande valia para o conhecimento crítico acerca das grandes empresas e pessoas de capital que mascaram as questões ambientais em prol do seu benefício próprio, sem atentar-se com o possível malefício aos demais e às gerações que ainda virão. 

Por meio do viés médico, é imprescindível a atenção quanto às influências externas, em sua maioria causadas por nós mesmos, como uma das vias que necessitam prevenção e tratamento. O próprio filme apresenta o impacto na saúde dos indivíduos, expondo o câncer como a patologia mais decorrente deste produto, mas não apenas ela, situações como envelhecimento mais rápido, depressão, ansiedade e angústias de forma geral também são destacadas. Essas doenças apontam o quão exaustivo é lidar com um processo judiciário moroso e que busca um direito humano afirmado pela ONU. 

Como Citar

Santos, A. V., & Carvalho Amâncio, A. C. de. (2025). RESENHA: “O PREÇO DA VERDADE”. Caderno De Graduação - Ciências Biológicas E Da Saúde - UNIT - SERGIPE, 9(2), 37–42. https://doi.org/10.17564/2316-3151.2025v9n2p37-42

Referências

Nathaniel Rich. The Lawyer Who Became DuPont's Worst Nightmare. The New York Times, 2016. Disponível em: https://www.nytimes.com/2016/01/10/magazine/the-lawyer-who-became-duponts-worst-night mare.html. Acesso em: 9 mar. 2025.

INVENTANDO Anna. Direção de Shonda Rhimes. Estados Unidos: Shonda Rhimes, 2022. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81008305?s=i&trkid=258593161&vlang=pt. Acesso em: 9 mar. 2025.

TODD Haynes. Rotten Tomatoes. Disponível em: https://www.rottentomatoes.com/celebrity/todd_haynes. Acesso em: 9 mar. 2025.

SANTOS, Alda Ernestina dos; FRANCO, Juliana Rodrigues; ALVES, Allynne Avylla. Aspectos Químicos, Físicos e Biológicos dos Diferentes Tipos de Panelas: relato de experiência de um projeto interdisciplinar no ensino superior. Revista Criar Educação, v. 11, 2022. Disponível em: https://periodicos.unesc.net/ojs/index.php/criaredu/article/view/6409/6441. Acesso em: 9 maio 2025.

FRIGOTTO, Sabrina; MARCONDES, Gustavo; REGERT, Rodrigo. A necessidade de responsabilização penal da pessoa jurídica em meio a episódios de danos irreversíveis ao meio ambiente. Criar Educação, Criciúma, v. 11, nº1, jan/jul 2022. Disponível em: https://www.academia.edu/download/93037014/18207-Texto_do_artigo-57671-1-10-20220427.pdf. Acesso em: 9 maio 2025.

VILHENA, Andréa. ONU declara meio ambiente limpo, saudável e sustentável como direito humano. Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo Carvalho, 25 ago. 2022. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=ONU-declara-meio-ambiente-limpo. Acesso em: 9 maio 2025.

ONU aprova resolução sobre meio ambiente saudável como direito humano. Organização das Nações Unidas, 2022. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2022/07/1796682. Acesso em: 9 maio 2025.

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